Consolidada - 21/05/2008 19h20
Governo prepara normas sobre violação de direitos humanos
A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, órgão ligado à Presidência da República, deve concluir até junho um anteprojeto de lei para regulamentar a aplicação de recomendações e sentenças emitidas por organismos multilaterais contra o Brasil por violação de direitos humanos. O objetivo é facilitar o cumprimento das decisões de entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). A informação foi dada em audiência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias sobre a atuação do Brasil em fóruns internacionais que tratam de direitos humanos.
De acordo com a coordenadora da Assessoria Internacional da secretaria, Cristina Cambiaghi, o projeto deverá indicar o papel de cada ente público em relação ao cumprimento das recomendações. Ou seja, definirá o papel da União - incluindo todos os poderes - e de estados e municípios, quando a responsabilidade para reparação do dano aos direitos humanos recair sobre cada um deles.
Para o deputado Luiz Couto (PT-PB), a regulamentação é importante porque dará meios de cobrar a responsabilidade do agente diretamente envolvido com a agressão. "Muitas vezes a violação está no município", observou.
Projeto da Câmara
Não existe ainda uma legislação que trate do assunto. Cristina ressaltou que a proposta do Executivo deverá ser mais completa do que o Projeto de Lei
4667/04, do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que tramita na Casa.
O projeto de Cardozo determina que as decisões dos organismos internacionais de proteção aos direitos humanos, com competência reconhecida pelo Brasil, produzirão efeitos jurídicos imediatos. Com isso, a União poderá cobrar o pagamento de indenização, quando ela for recomendada, do responsável pela violação.
As recomendações de organismos multilaterais, no entanto, são mais amplas e giram em torno de quatro pontos: a identificação dos responsáveis pela agressão aos direitos humanos, a reparação do dano, as políticas de prevenção, e a investigação e punição.
Modelo de dificuldade
Um caso paradigmático da dificuldade do governo federal é o do presídio Urso Branco, de Porto Velho (RO). A penitenciária vive em constante estado de motim e desde 2002 já morreram perto de 50 presos. As violações aos direitos humanos têm levado o Brasil a receber críticas e recomendações da OEA. Segundo Cristina Cambiaghi, o governo de Rondônia colabora pouco com a aplicação das diretrizes.
A diretora do Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais do Ministério das Relações Exteriores, Ana Lucy Gentil Cabral Petersen, que também participou do debate, admitiu a dificuldade. "Os estados não reconhecem como responsabilidade deles as petições apresentadas pelos organismos internacionais", disse Ana Lucy.
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Reportagem - Janary Júnior
Edição - Francisco Brandão
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SR
Publicado por Hamilton F Menezes
em 26/05/2008 às 19h14