08/01/2007 00h30
Artista Plástico: Rafael Inácio - Obra de Arte: Branca Azeda
Obra de Arte acima:
Branca Azeda - 1,20 x 1,00m, tinta acrílica sobre tela.
O trabalho do pintor Rafael Inácio revela com intensa sutileza a condição do corpo no mundo contemporâneo. Em sintonia com o espírito observador do voyeur, uma das principais características da arte moderna desde a poesia de Baudelaire, os quadros de Inácio nos incitam e provocam a refletir sobre o olhar. Porém, ao contrário do anonimato que desfruta no espaço público e na rua, este olhar assume em sua obra uma condição necessária de subjetividade diante a multiplicidade e fragmentação das relações no mundo pós-moderno. Corpos em sua interface com os movimentos do desejo, com as possibilidades infinitas de ser desejo, de ter desejo. Esse é o diálogo proposto pelo artista. A superada questão da essência apolínea da beleza é descartada. As cópias e os simulacros são mais interessantes. Não pretendem revelar a verdade e nem se justificam por um ideal de pureza. Sua superficialidade nos aproxima da condição de afetar, de deslocar de fato o que nos é (pro)posto como lugar e como natureza. É um índice de resistência. É uma afirmação do corpo. O trabalho de Inácio aborda alguns aspectos desta resistência. Anorexia, drogas da beleza ou o decadente glamour no ato de se entorpecer que sugerem suas personagens não representam indícios de fraqueza. São reações normais de um corpo que se rebela contra os postulados morais e estéticos que a sociedade lhe impõe. É uma denúncia a inviabilidade do projeto de adestramento e disciplina do corpo. A artificialidade da musa, por exemplo, é assumida como potência, como mais um aspecto de sua amplitude e complexidade. Afirma outras vitalidades que independem do que é orgânico, organizado, do que é organismo. Todo seu trabalho é atravessado por esse lugar de flagrante contradição da artificialidade e pela constante possibilidade de transmutação dos elementos que dialogam em seus quadros. Não há em nenhum momento a ingênua tentativa de tradução ou de representação alegórica sobre o que o corpo é capaz. Inácio amplifica em sua pintura o espaço privilegiado dos corpos produtores de diferença e heterogeneidade na sociedade e nos demonstra uma incrível sagacidade de focar este movimento através de sua arte/techné. Miguel Jost
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Publicado por Hamilton F Menezes
em 08/01/2007 às 00h30